Viver é um escândalo: vozes que o HIV não silenciou

No início dos anos 1980, no auge de um verão de liberdade pós-ditadura no Brasil, uma geração ocupava pistas, palcos e praias como se não houvesse amanhã, até que a epidemia cortou a música. A AIDS trouxe medo, silêncio e o abandono do Estado. Enquanto o diagnóstico virava sentença, nasceram redes de cuidado, afeto e luta. A festa volta a tocar, diferente: com direitos, informação e em memória dos que se foram, para que os que ficaram, os que sobreviveram e os que ainda virão ocupem, enfim, a pista inteira.

Hoje, a Ciência tem respostas: indetectável é intransmissível, tratamento gratuito, carga viral controlada, vida longa. Quem recebe o diagnóstico não morre do vírus, mas do medo, do silêncio, da ignorância, que ainda chama de “doença gay” o que a Ciência explicou há décadas. É a solidão de não poder falar, o pânico de ser descoberto. Esta é a história de quem vive com HIV hoje, de pessoas que tomam um comprimido por dia e vivem vidas plenas. Mas que ainda precisam escolher: revelar ou esconder? Porque a Ciência avançou. A sociedade nem tanto.

Este episódio acompanha pessoas que vivem com o HIV e mostram que intimidade também é cuidado, do indetectável que não transmite ao uso de PrEP e PEP que protege o desejo. Quando disseram que amar era perigo, eles responderam com presença. Viver a dois ou a muitos continua sendo um “escândalo”. Afinal, como amar quando o amor é tratado como perigo? E o que muda quando descobrimos que ele nunca foi? O HIV entrou pelo mesmo caminho por onde entra o amor. E, aqui, o amor não é risco: é encontro.